Conto

O Anjo Rafael

1869

X

À meia-noite ouviu bater à porta; era Antônia.

A boa mulher entrou com preparação; receava que o menor ruído a comprometesse. O rapaz fechou a porta, e fez com que Antônia se sentasse.

- Agradeço-lhe o ter ficado - disse ela sentando-se -, e vou dizer-lhe que perigo ameaça a minha pobre Celestina.

- Perigo de vida? - perguntou o doutor.

- Mais do que isso.

- De honra?

- Menos que isso.

- Então...

- O perigo da razão; eu receio que a pobre moça fique louca.

- Receia? - disse o doutor sorrindo tristemente -. Está certa de que ela já o não está?

- Estou. Mas pode vir a ficar, tão louca como o pai.

- Esse...

- Esse está perdido.

- Quem sabe?

Antônia abanou a cabeça.

- Deve estar, porque há doze anos que perdeu a razão.

- Sabe o motivo?

- Não sei. Eu vim para esta casa há cinco anos; a menina tinha dez; era, como hoje, uma criaturinha viva, alegre e boa. Mas nunca tinha saído daqui; é provável que não tenha visto em sua vida mais de dez pessoas. Ignora tudo. O pai, que já então estava convencido de que era o anjo Rafael, como ainda hoje diz, repetia-o à filha constantemente, de maneira que ela acredita firmemente ser filha de um anjo. Tentei dissuadi-la disso; mas ela foi contar ao major, e este ameaçou-me de mandar-me embora se eu inculcasse más ideias à filha. Era má ideia dizer à menina que ele não era o que dizia e simplesmente um desgraçado doudo.

- E a mãe dela?

- Não conheci; perguntei por ela a Celestina; e soube que ela também a não conhecera, pela razão de que não tivera mãe. Referiu-me ter sabido, por boca de seu pai, que ela viera ao mundo por obra e graça do céu. Bem vê que a menina não está louca; mas aonde irá ter com estas ideias?

O doutor estava pensativo; compreendia agora as palavras incoerentes da moça ao piano. A narração de Antônia era verossímil. Cumpria salvar a moça levando-a para fora dali. Para isso o casamento era o melhor meio.

- Tens razão, boa Antônia - disse ele -, salvaremos Celestina; descansa em mim.

- Jura?

- Juro.

Antônia beijou a mão ao rapaz, derramando algumas lágrimas de contentamento. É que Celestina era para ela mais do que ama, era uma espécie de filha criada na solidão.

Saiu a criada, e o doutor deitou-se, não só porque a hora era adiantada, como porque o seu espírito pedia algum repouso ao cabo de tantas e novas emoções.

No dia seguinte falou ao major na necessidade de abreviar o casamento, e por consequência na de arranjar os papéis.

Concordou-se que o casamento seria na capela de casa, e o major concedeu licença para que um padre os casasse; isto pela consideração de que, se Celestina, como filha de um anjo, estava acima de um padre, não acontecia o mesmo com o doutor, que era simplesmente um homem.

Quanto aos papéis, levantou-se uma dúvida relativamente à declaração do nome da mãe da moça. O major declarou peremptoriamente que Celestina não tinha mãe.

Mas o coronel, que estava presente, interveio no debate, dizendo ao major estas palavras, que o doutor não compreendeu, mas que lhe fizeram impressão:

- Tomás! Lembra-te de ontem à noite.

O major calou-se imediatamente. Quanto ao coronel, voltando-se para o Dr. Antero, disse-lhe:

- Tudo se há de arranjar; descanse.

A conversa ficou nisto.

Mas houve quanto bastasse para que o doutor descobrisse nas mãos do coronel Bernardo o fio daquela meada. O rapaz não hesitou em aproveitar a primeira ocasião para entender-se com o coronel a fim de o informar acerca dos mil e um pontos obscuros daquele quadro que há dias tinha diante dos olhos.

Celestina não assistira à conversa; estava na outra sala tocando piano. O doutor lá foi ter com ela, e achou-a triste. Perguntou-lhe por quê.

- Eu sei! - respondeu a moça - Está-me parecendo que o senhor não gosta de mim; e se me perguntar por que a gente gosta dos outros, não sei.

O moço sorriu, pegou-lhe na mão, apertou-a entre as suas, e levou-a aos lábios. Desta vez, Celestina não gritou, nem resistiu; ficou a olhar embebida para ele, pendente dos seus olhos, pode-se dizer que pendente da sua alma.

XI

Na noite seguinte, o Dr. Antero passeava no jardim, justamente por baixo da janela de Celestina. A moça não sabia que ele se achava ali, nem o rapaz quis por modo nenhum chamar a atenção dela. Contentava-se em olhar de longe, vendo de quando em quando desenhar-se na parede a sombra daquele delicado corpo.

Havia lua e o céu estava sereno. O doutor, que até ali não conhecia nem apreciava os mistérios da noite, aprazia-se agora em conversar com o silêncio, a sombra e a solidão.

Quando se achava mais embebido com os olhos na janela, sentiu que alguém lhe batia no ombro.

Estremeceu, e voltou-se rapidamente.

Era o coronel.

- Olá, meu caro doutor - disse o coronel -, faz um idílio antes do casamento?

- Estou tomando fresco - respondeu o doutor -; a noite está magnífica e lá dentro está calor.

- Isto é verdade; eu também vim tomar fresco. Passeemos, se lhe não interrompo as reflexões.

- Pelo contrário, e eu até estimo...

- Ter-me encontrado?

- Justo.

- Pois então melhor.

O rumor das palavras trocadas pelos dous foi ouvido no quarto de Celestina. A moça chegou à janela e procurou ver se descobria de quem eram as vozes.

- Lá está ela - disse o coronel -. Olhe!

Os dous homens aproximaram-se, e o coronel disse para Celestina:

- Somos nós, Celestina; eu e o teu noivo.

- Ah! Que andam fazendo?

- Bem vês; tomando fresco.

Houve um silêncio.

- Não me diz nada, doutor? - perguntou a moça.

- Contemplo-a.

- Faz bem - respondeu ela -; mas como o ar pode fazer-me mal, boa noite.

- Boa noite!

Celestina entrou, e pouco depois fechou-se a janela.

Quanto aos dous homens, dirigiram-se para um banco de pau que ficava na outra extremidade do jardim.

- Diz então que estimava encontrar-me?

- É verdade, coronel; peço-lhe uma informação.

- E eu vou dar-lha.

- Sabe o que é?

- Adivinho.

- Tanto melhor; evita-me um discurso.

- Quer saber quem é a mãe de Celestina?

- Em primeiro lugar.

- Pois que mais?

- Quero saber depois qual a razão desta loucura do major.

- Não sabe nada?

- Nada. Eu estou aqui em consequência de uma aventura singularíssima que lhe vou narrar.

O doutor repetiu ao coronel a história da carta e do recado que o chamara ali, sem ocultar que o convite do major chegara justamente na ocasião em que ele se achava disposto a romper com a vida.

O coronel ouviu atentamente a narração do moço; ouviu também a confissão de que a entrada naquela casa fizera do doutor um bom homem, quando não passava de um homem inútil e mau.

- Confissão por confissão - disse o doutor -, venha a sua.

O coronel tomou a palavra.

- Fui amigo de seu pai e do major; seu pai morreu há muito; ficamos eu e o major como dous sobreviventes dos três irmãos Horácios, nome que nos davam os homens do nosso tempo. O major era casado, eu, solteiro. Um dia, por motivos que não vêm ao caso, o major suspeitou que sua mulher lhe era infiel, e expulsou-a de casa. Eu também acreditei na infidelidade de Fernanda, e aprovei, em parte, o ato do major. Digo-lhe em parte, porque a pobre mulher no dia seguinte não tinha de comer; e foi de minha mão que recebeu alguma cousa. Protestou ela por sua inocência com as lágrimas nos olhos; eu não acreditei nas lágrimas nem nos protestos. O major ficou louco, e veio então para esta casa com a filha, e nunca mais saiu. Acontecimentos imprevistos me obrigaram a ir pouco depois para o Norte, onde estive até há pouco. E não teria voltado se...

O coronel estacou.

- Que é? - perguntou-lhe o doutor.

- Não vê um vulto ali?

- Aonde?

- Ali.

Com efeito encaminhava-se um vulto para os dous interlocutores; a alguns passos reconheceram ser o criado José.

- Sr. Coronel - disse o criado -, ando à sua procura.

- Por quê?

- O amo quer falar-lhe.

- Bem; lá vou.

O criado retirou-se, e o coronel continuou:

- Não teria voltado se não adquirisse a certeza de que as suspeitas do major eram todas infundadas.

- Como?

- Fui encontrar, depois de tantos anos, na província em que me achava, a esposa do major servindo de criada em uma casa. Tinha tido uma vida exemplar; as informações que obtive confirmavam as asseverações dela. As suspeitas fundavam-se numa carta achada em poder dela. Ora, essa carta comprometia uma mulher, mas não era Fernanda; era outra, cujo testemunho ouvi no ato de morrer. Compreendi que era talvez o meio de chamar o major à razão vir contar-lhe isso tudo. Vim, com efeito, e expus-lhe o que sabia.

- E ele?

- Não acredita; e quando parece ir-se convencendo das minhas asseverações, volta-lhe a ideia de que ele não é casado, porque os anjos não casam; enfim, o mais que o senhor sabe.

- Então está perdido?

- Creio que sim.

- Nesse caso cumpre salvar-lhe a filha.

- Por quê?

- Porque o major educou Celestina na mais absoluta reclusão possível, e desde pequena incutiu-lhe a ideia de que anda possuído, de maneira que eu tenho medo de que a pobre moça sofra igualmente.

- Descanse; o casamento será feito quanto antes; e o senhor a levará daqui; em último caso, se não pudermos convencê-lo, sairão sem que ele o saiba.

Levantaram-se os dous, e ao chegarem perto de casa, saiu-lhes ao encontro o criado, trazendo um novo recado do major.

- Parece-me que está doente - acrescentou o criado.

- Doente?

O coronel apressou-se a ir ter com o amigo, enquanto o doutor foi para o quarto esperar notícias dele.

XII

Quando o coronel entrou no quarto do major achou-o muito aflito. Passeava de um lado para outro, agitado, proferindo palavras incoerentes, com o olhar desvairado.

- Que tens, Tomás?

- Ainda bem que vieste - disse o velho -; sinto-me mal; veio aqui há pouco um anjo buscar-me; disse-me que eu estava fazendo falta no céu. Creio que me vou embora desta vez.

- Deixa-te disso - respondeu o coronel -; foi caçoada do anjo; descansa, tranquiliza-te.

O coronel conseguiu fazer com que o major se deitasse. Apalpou-lhe o pulso, e sentiu-lhe febre. Entendeu que era conveniente mandar buscar um médico, e deu ordem ao criado nesse sentido.

Acalmou-se a febre do major, que conseguiu dormir um pouco; o coronel mandou preparar uma cama no mesmo quarto, e depois de ir dar parte ao doutor do que acontecera, voltou para o quarto do major.

No dia seguinte o doente levantou-se melhor; o médico, tendo chegado sobre a madrugada, não chegou a aplicar-lhe nenhum remédio, mas lá ficou para o caso de ser preciso.

Quanto a Celestina, nada soube do que havia acontecido; e acordou alegre e viva como nunca.

Mas sobre a tarde voltou a febre ao major, e desta vez de um modo violento. Dentro de pouco tempo declarou-se a proximidade da morte.

O coronel e o doutor tiveram cuidado de afastar Celestina, que não sabia o que era morrer, e podia sofrer com a vista do pai moribundo.

O major, cercado pelos dous amigos, pedia-lhes com instância que lhe fossem buscar a filha; mas eles não consentiram nisso. Então, o pobre velho instou com o doutor que não deixasse de casar com ela, e ao mesmo tempo repetiu a declaração de que lhe deixava uma fortuna. Enfim sucumbiu.

Ficou assentado entre o coronel e o doutor que a morte do major seria participada à filha depois de feito o enterro, e que este teria lugar com a maior discrição possível. Assim se fez.

A ausência do major ao almoço e ao jantar do dia seguinte foi explicada a Celestina como proveniente de uma conferência em que ele estava com pessoas de sua amizade.

De maneira que, ao passo que do outro lado da casa se achava o cadáver do pai, a filha ria e conversava à mesa como nos seus melhores dias.

Mas feito o enterro era preciso dizê-lo à filha.

- Celestina - disse-lhe o coronel -, tu vais casar brevemente com o Dr. Antero.

- Mas quando?

- Daqui a dias.

- Dizem-me isso há que tempo!

- Pois agora é de uma vez. Teu pai...

- Que tem?

- Teu pai não volta por enquanto.

- Não volta? - disse a moça -. Pois onde foi ele?

- Teu pai foi para o céu.

A moça ficou pálida ouvindo a notícia; não lhe ligava nenhuma ideia fúnebre; mas o coração adivinhava que por trás daquela notícia havia uma catástrofe.

O coronel procurou distraí-la.

Mas a moça, vertendo duas lágrimas, duas só, mas que valiam por cem, disse com profunda amargura:

- Papai foi para o céu e não se despediu de mim!

Depois recolheu-se ao quarto até o dia seguinte.

O coronel e o doutor passaram a noite juntos.

Declarou o doutor que a fortuna do major estava por trás de uma estante, na biblioteca, e que ele sabia o meio de abri-la. Assentaram os dous no meio de apressar o casamento de Celestina sem prejuízo dos atos da justiça.

Cumpria, porém, antes de tudo, arrancar a moça daquela casa; o coronel indicou a casa de uma parenta sua, para onde a levariam no dia seguinte. Assentados estes pormenores, o coronel perguntou ao doutor:

- Ora, diga-me; não crê agora que haja uma Providência?

- Sempre acreditei.

- Não minta; se acreditasse não teria recorrido ao suicídio.

- Tem razão, coronel; dir-lhe-ei até: eu era um pouco de lodo, hoje sinto-me pérola.

- Compreendeu-me bem; eu não queria aludir à fortuna que veio encontrar aqui, mas a essa reforma de si mesmo, a essa renovação moral, que obteve com este ar e na contemplação daquela formosa Celestina.

- Diz bem, coronel. Quanto à fortuna, estou pronto a...

- A quê? A fortuna é de Celestina; não deve desfazer-se dela.

- Mas podem supor que o casamento...

- Deixe supor, meu amigo. Que lhe importa ao senhor que suponham? Não tem a sua consciência, que lhe não argúi cousa nenhuma?

- É verdade; mas a opinião...

- A opinião, meu caro, não é mais do que uma opinião; não é a verdade. Acerta às vezes; outras calunia, e quer a desgraça que mais vezes calunie do que acerte.

O coronel em matéria de opinião pública era um perfeito ateu; negava-lhe a autoridade e a supremacia. Umas das suas máximas era esta: "A opinião pública é um muro em branco: aceita tudo quanto lhe escrevem em cima, quer venha da mão de um garoto, quer da de um homem de bem".

Foi difícil ao doutor e ao coronel convencer a Celestina de que deveria sair daquela casa; mas enfim alcançaram levá-la para a cidade de noite. A parenta do coronel, prevenida a tempo, recebeu-a em casa.

Arranjadas as cousas de justiça, tratou-se de realizar o casamento.

Antes porém de chegar a esse ponto tão almejado pelos dous noivos, foi preciso habituar Celestina à vida nova que começava a viver e que ela não conhecia. Educada entre as paredes de uma casa isolada, longe de todo o rumor, e sob a direção de um homem enfermo da razão, Celestina entrou num mundo que jamais sonhara, nem dele tinha notícia.

Tudo para ela era objeto de curiosidade e espanto. Cada dia trazia-lhe uma emoção nova.

Admirava a todos que, apesar da singular educação que tivera, soubesse tocar tão bem; ela tivera com efeito um mestre chamado pelo major, que desejava, dizia ele, mostrar que um anjo, e principalmente o anjo Rafael, sabia fazer as cousas como os homens. Quanto à leitura e escritura, foi ele mesmo quem lhas ensinou.

XIII

Logo depois que voltou à cidade, o Dr. Antero teve cuidado de escrever a seguinte carta aos seus amigos:

O Dr. Antero da Silva, recentemente suicidado, tem a honra de participar a V. que voltou do outro mundo, e se acha ao seu dispor no hotel de ***.

Encheu-se-lhe a sala de gente que correra a vê-lo; alguns incrédulos supuseram simples caçoada de algum homem amigo de pregar peças aos outros. Foi um concerto de exclamações:

- Não morreste!

- Pois quê! Estás vivo!

- Mas que foi isto!

- Aqui houve milagre!

- Qual milagre - respondia o doutor -; foi simplesmente um meio engenhoso de ver a impressão que causaria a minha morte; já soube quanto quisera saber.

- Oh! - disse um dos presentes -. Foi profunda; pergunta ao César.

- Quando soubemos do desastre - acudiu César -, não quisemos crer; corremos à tua casa; era infelizmente verdade.

- Que marreco! - exclamava um terceiro -. Fazer-nos chorar por ele, quando talvez se achasse perto de nós... Nunca te hei de perdoar aquelas lágrimas.

- Mas - disse o doutor-, a polícia parece que chegou a reconhecer o meu cadáver.

- Disse que sim, e eu acreditei.

- Eu também.

Nesse momento entrou na sala um novo personagem; era o criado Pedro.

O doutor rompeu por entre os amigos e foi abraçar o criado, que entrou a derramar lágrimas de contentamento.

Aquela efusão em relação a um criado, comparada à frieza relativa com que o doutor os recebera, incomodou aos amigos que ali se achavam. Era eloquente. Saíram os amigos pouco depois declarando que o contentamento de vê-lo lhes inspirava a ideia de lhe dar um jantar. O doutor recusou o jantar.

No dia seguinte, os jornais declararam que o Dr. Antero da Silva, que se julgava morto, se achava vivo e aparecera; e logo nesse dia recebeu o doutor a visita dos credores, que, pela primeira vez, viam ressuscitar uma dívida já sepultada.

Quanto ao folhetinista de um dos jornais que tratara da morte do doutor e da carta que ele deixara, encabeçou o seu artigo do próximo sábado assim:

Dizem que reapareceu o autor de uma carta com que me ocupei ultimamente. Será verdade? Se voltou não é autor da carta; se é autor da carta não voltou.

A isto respondeu o ressuscitado:

Voltei do outro mundo, e apesar disso sou o autor da carta. Do mundo de que venho trago uma boa filosofia: ter em nenhuma conta a opinião dos meus contemporâneos, e em menos ainda a dos meus amigos. Trouxe mais alguma cousa, mas isso importa pouco ao público.

XIV

Efetuou-se o casamento três meses depois.

Celestina estava outra; perdera aquele estouvamento ignorante que era o principal traço do seu caráter, e com ele as ideias extravagantes que o major lhe incutira.

O coronel assistiu ao casamento.

Um mês depois o coronel foi despedir-se dos noivos, voltava para o Norte.

- Adeus, meu amigo - disse-lhe o doutor -; nunca esquecerei o que fez por mim.

- Eu não fiz nada; ajudei a boa sorte.

Celestina despediu-se do coronel com lágrimas.

- Por que choras, Celestina? - disse o velho -. Eu volto breve.

- Sabe por que ela chora? - perguntou o doutor -. Eu já lhe disse que sua mãe estava no Norte; ela sente não poder vê-la.

- Ve-la-á, porque eu vou buscá-la.

Quando o coronel saiu, Celestina pôs os braços à roda do pescoço do marido, e disse com um sorriso entre lágrimas:

- Ao pé de ti e de minha mãe, que mais quero eu na terra?

No ideal da felicidade da moça já não entrava o coronel. Ó amor! Ó coração! Ó egoísmo humano!

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