Conto

O Anjo Rafael

1869
Este conto foi originalmente publicado no Jornal das famílias, em outubro, novembro e dezembro de 1869, assinado por Victor de Paula. O texto desta edição eletrônica foi cotejado com o da publicação original.

Capítulo primeiro

Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado das mulheres e aborrecido dos credores, o Dr. Antero da Silva determinou um dia despedir-se deste mundo.

Era pena. O Dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, e podia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade é que para isso fora necessário proceder a uma completa reforma dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso herói que o defeito não estava em si, mas nos outros; cada pedido de um credor inspirava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; julgava conhecer os homens, por ter tratado até então com alguns bonecos sem consciência; pretendia conhecer as mulheres, quando apenas havia praticado com meia dúzia de regateiras do amor.

O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para isso foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e entrou em casa, que era à rua da Misericórdia.

Davam então quatro horas da tarde.

O Dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na mesa.

"A viagem é longa", disse ele consigo, "e eu não sei se há hotéis no caminho."

Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir dormir a sesta e não o último sono. O próprio criado reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. No fim dele, quando o criado lhe trouxe o café, Antero proferiu paternalmente as seguintes palavras:

- Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis que lá estão; são teus. Vai passar a noite fora e não voltes antes da madrugada.

- Obrigado, meu senhor - respondeu Pedro.

- Vai.

Pedro apressou-se a executar a ordem do amo.

O Dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu um volume do Dicionário filosófico e começou a ler.

Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A leitura do Dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente daí a algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou o livro.

Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer e agradecer ao céu.

O Dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para escrever. Não tinha parentes, nem amigos a quem deixar carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer a respeito dele a sua última palavra. Travou da pena e escreveu as seguintes linhas:

Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De ordinário a fuga é impossível. Mas estes animais meus semelhantes, tão traiçoeiros e ferozes como os outros, tiveram a inépcia de inventar uma arma, mediante a qual um transviado facilmente lhes escapa das unhas.
É justamente o que vou fazer.
Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com estes três elementos reduzirei a minha vida ao nada. Não levo nem deixo saudades. Morro por estar enjoado da vida e por ter certa curiosidade da morte.
Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadáver, os jornais escreverão a notícia do meu acontecimento, e um ou outro fará a esse respeito considerações filosóficas.
Importa-me bem pouco as tais considerações.
Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas linhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os rimadores de ocasião encontrarão assunto para algumas estrofes.

O Dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em alguns lugares a pontuação, fechou o papel em forma de carta, e pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo.

Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um traço de impiedade, a bucha que meteu no cano da pistola foi uma folha do Evangelho de São João.

Era noite fechada. O Dr. Antero chegou-se à janela; respirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas:

- Até já.

E saindo da janela acrescentou mentalmente:

- Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui, e estou feito um punhado de pó. É bem possível que no futuro século sirva este meu invólucro para macadamizar a rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer de ser pisado por alguns pés bonitos.

Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho.

- Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere - disse ele.

Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes.

Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de um curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar a quem quer que fosse. Contudo, por maior que seja a tranquilidade de um homem quando resolve abandonar a vida, é-lhe sempre agradável achar um pretexto para prolongá-la um pouco mais.

O Dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a porta.

II

A pessoa que batera à porta era um homem grosseiramente vestido. Trazia uma carta na mão.

- Que me quer? - perguntou-lhe o Dr. Antero.

- Trago esta carta, que lhe manda meu amo.

O Dr. Antero aproximou-se da luz para ler a carta.

A carta dizia assim: "Uma pessoa que deseja propor um negócio ao Sr. Dr. Antero da Silva pede-lhe que venha imediatamente à sua casa. O portador desta o acompanhará. Trata-se de uma fortuna."

O rapaz leu e releu a carta, cuja letra não conhecia, e cujo laconismo trazia um ar de mistério.

- Quem é teu amo? - perguntou o Dr. Antero ao criado.

- É o Sr. major Tomás.

- Tomás de quê?

- Não sei mais nada.

O Dr. Antero franziu a testa. Que mistério seria aquele? Uma carta sem assinatura, uma proposta lacônica, um criado que não sabia o nome do patrão, eis quanto bastou para despertar vivamente a curiosidade do Dr. Antero. Apesar de não ter o espírito propenso às aventuras, esta o impressionara a ponto que esqueceu por um instante a lúgubre viagem tão friamente planeada.

Olhou para o criado atentamente; as feições eram comuns, o olhar, pouco menos de estúpido. Evidentemente não era um cúmplice, se é que no fundo daquela aventura havia um crime.

- Onde mora teu amo? - perguntou o Dr. Antero.

- Na Tijuca - respondeu o criado.

- Mora só?

- Com uma filha.

- Menina ou moça?

- Moça.

- Que qualidade de homem é o major Tomás?

- Não lhe posso dizer - respondeu o criado -, porque fui para lá há oito dias apenas. Quando entrei, disse-me o patrão: "José, a tua obrigação é servir muito, falar pouco e não ver nada". Até hoje tenho executado a ordem do patrão.

- Há mais criados em casa? - perguntou o Dr. Antero.

- Há uma criada, que serve à filha do amo.

- Ninguém mais?

- Ninguém mais.

A ideia do suicídio já estava longe do espírito do Dr. Antero. O que o prendia agora era o mistério daquela missão noturna e as singulares referências do portador da carta. Varreu-se-lhe do espírito igualmente a suspeita de um crime. A sua vida tinha sido tão indiferente ao resto dos homens, que não podia ter inspirado a ninguém a ideia de uma vingança.

Contudo, hesitava ainda; mas relendo o misterioso bilhete, reparou nas últimas palavras: trata-se de uma fortuna; palavras que nas duas primeiras leituras apenas lhe causaram uma ligeira impressão.

Quando um homem quer deixar a vida por simples aborrecimento, a promessa de uma fortuna é razão bastante para suspender o passo fatal. No caso do Dr. Antero a promessa da fortuna era razão decisiva. Se averiguarmos bem a causa principal do tédio que este mundo lhe inspirava, veremos que não é outra senão a falta de cabedais. Desde que estes lhe batiam à porta, o suicídio já não tinha uma razão de ser.

O doutor disse ao criado que o esperasse, e tratou de vestir-se.

"Em todo o caso", disse ele consigo, "a todo tempo é tempo; se não morrer hoje posso morrer amanhã."

Vestiu-se e, lembrando-se de que seria conveniente ir armado, meteu a pistola no bolso, e saiu acompanhado pelo criado.

Quando os dous chegaram à porta da rua, já os esperava um carro. O criado convidou o Dr. Antero a entrar, e foi sentar na almofada com o cocheiro.

Conquanto os cavalos fossem a trote largo, longa pareceu a viagem ao doutor, que, apesar das circunstâncias singulares daquela aventura, tinha ânsia por ver-lhe o desfecho. Entretanto, à proporção que o carro se ia afastando do centro populoso da cidade, o espírito do nosso viajante tomava-se de certa apreensão. Era ele mais estouvado que animoso; a sua tranquilidade diante da morte não era resultado do valor de ânimo. No fundo do seu espírito havia uma extrema dose de fraqueza. Podia disfarçá-la quando dominava os acontecimentos; mas agora que os acontecimentos dominavam a ele, facilmente desaparecia o simulacro de coragem.

Enfim o carro chegou à Tijuca, e, depois de andar um grande espaço, parou diante de uma chácara completamente separada de todas as demais habitações.

O criado veio abrir a porta, e o doutor apeou-se. As pernas tremiam-lhe um pouco, e o coração pulsava-lhe apressadamente. Estavam diante de um portão fechado. A chácara era cercada por um muro um tanto baixo, por cima do qual o Dr. Antero pôde ver a casa de habitação, colocada no fundo da chácara perto da encosta de uma colina.

O carro deu volta e partiu, enquanto o criado abria o portão com uma chave que trazia no bolso. Entraram os dous, e o criado fechando por dentro o portão indicou o caminho ao Dr. Antero.

Não quero dar ao meu herói proporções que ele não tem; confesso que naquele momento o Dr. Antero da Silva estava bem arrependido de ter aberto a porta ao importuno portador da carta. Se pudesse fugir, fugia, ainda correndo o risco de passar por covarde aos olhos do criado. Mas era impossível. O doutor fez das tripas coração, e caminhou na direção da casa.

A noite era clara, mas sem lua; soprava um vento que agitava brandamente as folhas das árvores.

O doutor caminhava por uma alameda acompanhado pelo criado; rangia a areia debaixo de seus pés. Apalpou o bolso para verificar se tinha a pistola consigo; em todo o caso era um recurso.

Quando chegaram ao meio do caminho o doutor perguntou ao criado:

- O carro não volta?

- Suponho que sim; meu amo o informará melhor.

O doutor teve uma ideia súbita: empregar o tiro no criado, saltar o muro e voltar para casa. Chegou a engatilhar a arma, mas imediatamente refletiu que o ruído despertaria a atenção, e a sua fuga tornava-se improvável.

Resignou-se pois à sorte, e caminhou para a casa misteriosa.

Misteriosa é o termo; todas as janelas estavam fechadas; não havia uma única réstia de luz; não se ouvia o menor rumor de fala.

O criado tirou do bolso outra chave, e com ela abriu a porta da casa, que tornou a fechar apenas o doutor entrou. Aí tirou o criado do bolso uma caixa de fósforos, acendeu um, e com ele um rolo de cera que trazia consigo.

O doutor viu então que se achava em uma espécie de pátio, tendo ao fundo uma escada comunicando para o sobrado. Perto da porta de entrada havia um cubículo tapado por um gradil de ferro, e que servia de casa a um enorme cão. O cão entrou a rosnar quando pressentiu gente; mas o criado fê-lo calar, dizendo:

- Silêncio, Dolabela!

Subiram a escada até acima, e depois de atravessarem um extenso corredor, acharam-se diante de uma porta fechada. O criado tirou do bolso uma terceira chave, e depois de abrir a porta convidou o Dr. Antero a entrar, dizendo:

- Queira o senhor esperar aqui, enquanto eu vou dar parte a meu amo da sua chegada. Entretanto, deixe-me acender-lhe uma vela.

Efetivamente acendeu uma vela que se achava dentro de um castiçal de bronze em cima de uma pequena mesa redonda de mogno, e saiu.

O Dr. Antero achava-se num quarto; havia a um lado uma cama alta; a mobília era de um gosto severo; o quarto tinha apenas uma janela, mas gradeada. Sobre a mesa havia alguns livros, pena, papel e tinta.

É fácil imaginar a ânsia com que o doutor esperou a resposta do seu misterioso correspondente. O que ele queria era pôr termo àquela aventura, que tinha ares de um conto de Hoffmann. A resposta não se demorou. O criado voltou dizendo que o major Tomás não podia falar imediatamente ao doutor; oferecia-lhe quarto e cama, e adiava a explicação para o dia seguinte.

O doutor insistiu em falar-lhe naquela ocasião, pretextando ter importante motivo de voltar à cidade; no caso de não poder o major falar-lhe, propunha ele voltar no dia seguinte. O criado ouviu-o com todo o respeito, mas declarou que não voltaria ao patrão, cujas ordens eram imperiosas. O doutor ofereceu dinheiro ao criado; mas este recusou os presentes de Artaxerxes com um gesto tão solene, que tapou a boca ao moço.

- Tenho ordem - disse finalmente o criado - de trazer-lhe uma ceia.

- Não tenho fome - respondeu o Dr. Antero.

- Nesse caso, boa noite.

- Adeus.

O criado dirigiu-se para a porta, enquanto o doutor o seguia ansiosamente com os olhos. Iria ele fechar-lhe a porta por fora? Realizou-se a suspeita; o criado fechou a porta e levou a chave consigo.

É mais fácil imaginar que narrar a noite aflitiva do Dr. Antero. Os primeiros raios do sol, penetrando através das grades da janela, acharam-no vestido sobre a cama, onde só conseguira adormecer pelas quatro horas da madrugada.

III

Ora, o nosso herói teve um sonho durante o curto espaço de tempo que dormiu. Sonhou que, tendo executado o seu plano de suicídio, fora levado para a cidade das dores eternas, onde Belzebu o destinava a ser perpetuamente queimado numa imensa fogueira. O infeliz fazia as suas objeções ao anjo do reino escuro; mas este, com uma única resposta, reiterava a ordem dada. Quatro chanceleres infernais lançaram mão dele e o lançaram ao fogo. O doutor deu um grito e acordou.

Saía de um sonho para entrar em outro.

Levantou-se espantado; não conhecia o quarto em que se achava, nem a cama em que dormira. Mas pouco a pouco foi-lhe reproduzindo a memória todos os incidentes da véspera. O sonho tinha sido um mal imaginário; mas a realidade era um mal positivo. O rapaz teve ímpetos de gritar; reconheceu, porém, a inutilidade do recurso; preferiu esperar.

Não esperou muito; daí alguns minutos ouviu o ruído da chave na fechadura.

Entrou o criado.

Trazia na mão as folhas do dia.

- Já de pé!

- Sim - respondeu o Dr. Antero -. Que horas são?

- Oito horas. Aqui tem as folhas de hoje. Olhe, ali tem um lavatório.

O doutor não havia reparado ainda no lavatório; a preocupação tinha-lhe feito esquecer a lavagem do rosto; tratou de remediar o esquecimento.

Enquanto lavava o rosto, perguntou-lhe o criado:

- A que horas almoça?

- Almoçar?

- Sim, almoçar.

- Pois eu vou ficar aqui?

- São as ordens que tenho.

- Mas, enfim, estou ansioso por falar a esse major que não conheço, e que me tem preso sem que eu saiba por que motivo.

- Preso! - exclamou o criado -. O senhor não está preso; meu amo quer falar-lhe, e por isso é que eu o fui chamar; deu-lhe quarto, cama, dá-lhe um almoço; creio que isto não é tê-lo preso.

O doutor tinha enxugado o rosto, e sentou-se numa poltrona.

- Mas que me quer teu amo? - perguntou ele.

- Isso não sei - respondeu o criado -. A que horas quer o almoço?

- A que for do teu gosto.

- Bem - respondeu o criado -. Aqui tem as folhas.

O criado fez um respeitoso cumprimento ao doutor e saiu fechando a porta.

Cada minuto que passava era para o desgraçado moço um século de angústia. O que mais o torturava eram precisamente aquelas atenções, aqueles obséquios sem explicação possível, sem presumível desfecho. Que homem seria esse major, e que lhe queria ele? O doutor fez mil vezes esta pergunta a si mesmo sem achar resposta possível.

Do criado já sabia ele que nada poderia alcançar; além de novo na casa, parecia absolutamente estúpido. Seria honesto?

O Dr. Antero fez esta última reflexão metendo a mão no bolso e tirando a carteira. Restavam-lhe ainda uns cinquenta mil-réis.

"É quanto basta", pensou ele, "para conseguir deste pateta que me ponha fora daqui."

O doutor esquecia que já na véspera o criado recusara dinheiro em troca de um serviço menos importante.

Às nove horas o criado voltou trazendo numa bandeja um almoço delicado e apetitoso. Apesar da gravidade da situação, o nosso herói atacou o almoço com uma intrepidez de verdadeiro general de mesa. Dentro de vinte minutos só restavam nos pratos mortos e feridos.

Ao mesmo tempo que comia ia ele interrogando o criado.

- Dize-me cá; queres fazer-me um grande favor?

- Qual?

- Tenho aqui cinquenta mil-réis à tua disposição, e amanhã posso dar-te mais cinquenta, ou cem, ou duzentos; em troca disto peço-te que arranjes meio de me pôr fora desta casa.

- Impossível, senhor - respondeu o criado sorrindo -; eu só obedeço a meu amo.

- Sim; mas teu amo nunca virá a saber que eu te dei dinheiro; tu podes dizer-lhe que a minha fuga foi devida a um descuido, e deste modo ficamos ambos salvos.

- Eu sou honrado; não posso aceitar o seu dinheiro.

O doutor ficou desanimado com a austeridade do fâmulo; bebeu o resto do borgonha que tinha no copo, e levantou-se fazendo um gesto de desespero.

O criado não se impressionou; preparou o café para o hóspede e foi oferecer-lhe. O doutor bebeu dous ou três goles e restituiu-lhe a xícara. O criado arrumou a louça na bandeja e saiu.

No fim de meia hora voltou o criado dizendo que seu amo estava pronto para receber o Dr. Antero.

Conquanto o doutor desejasse sair da situação em que se achava, e saber o fim para que o haviam mandado buscar, nem por isso o impressionou menos a ideia de ir ver enfim o terrível e desconhecido major.

Lembrou-se que podia haver algum perigo, e instintivamente apalpou a algibeira; esquecia-se de que ao deitar-se tinha posto a pistola debaixo do travesseiro. Era impossível tirá-la à vista do criado; resignou-se.

O criado fê-lo sair primeiro, fechou a porta e seguiu adiante para guiar o mísero doutor. Atravessaram o corredor por onde haviam passado na véspera; depois entraram em outro corredor, que ia ter a uma pequena sala. Aí disse o criado ao doutor que esperasse enquanto ia dar parte a seu amo, e, penetrando numa sala que ficava à esquerda, voltou pouco depois dizendo que o major Tomás esperava o Dr. Antero.

O doutor passou à outra sala.

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