Também eu tirei sortes outrora. Com pouco se fingia de Destino - um livro, um rimador de quadras e um par de dados. "Se há de desposar a pessoa a quem ama", dizia o título da página, por exemplo; deitavam-se os dados, os números eram cinco e dous, sete: ia-se à quadra sétima, e lia-se. Suponhamos que se lia... Vá, risco a quadra que cheguei a escrever aqui. Geralmente era engraçada, pelo menos, mas também troçava com a pessoa que consultava o Destino. Todos riam; alguns criam deveras; em todo caso passavam-se as horas até chegar o sono. E ali vinha este velho camareiro da humanidade, que os pagãos chamaram Morfeu, e que a pagãos e cristãos, e até a incréus fecha os olhos com os seus eternos dedos de chumbo. Agora, meu sono amigo, só tu virás daqui a uma ou duas horas, sem livros de sortes nem dados. Quando muito trarás sonhos, e já não serão os mesmos de outro tempo.