Nisto apareceu um cliente ao Romualdo. Nem este, nem o Fernandes estavam preparados para um tal fenômeno, verdadeira fantasia do destino. Romualdo chegou ao extremo de crer que era um emissário da viúva, e esteve a ponto de piscar o olho ao Fernandes, que se retirasse, para dar mais liberdade ao homem. Este, porém, cortou de uma tesourada essa ilusão; vinha "propor uma causa ao senhor doutor". Era outro sonho, e se não tão belo, ainda belo. Fernandes apressou-se em dar cadeira ao homem, tirar-lhe o chapéu e o guarda-chuva, perguntar se lhe fazia mal o ar nas costas, enquanto o Romualdo, com uma intuição mais verdadeira das cousas, recebia-o e ouvia-o com um ar cheio de clientes, uma fisionomia de quem não faz outra cousa desde manhã até à noite, senão arrazoar libelos e apelações. O cliente, lisonjeado com as maneiras do Fernandes, ficou atado e medroso diante do Romualdo; mas ao mesmo tempo deu graças ao céu por ter vindo a um escritório onde o advogado era tão procurado e o escrevente tão atencioso. Expôs o caso, que era um embargo de obra nova, ou cousa equivalente. Romualdo acentuava cada vez mais o fastio da fisionomia, levantando o lábio, abrindo as narinas, ou coçando o queixo com a faca de marfim; ao despedir o cliente, deu-lhe a ponta dos dedos; o Fernandes levou-o até o patamar da escada.