A Corte divertia-se, apesar dos recentes estragos do cólera; - bailava-se, cantava-se, passeava-se, ia-se ao teatro. O Cassino abria os seus salões, como os abria o Club, como os abria o Congresso, todos três fluminenses no nome e na alma. Eram os tempos homéricos do teatro lírico, a quadra memorável daquelas lutas e rivalidades renovadas em cada semestre, talvez por um excesso de ardor e entusiasmo, que o tempo diminuiu, ou transferiu - Deus lhe perdoe - a cousas de menor tomo. Quem se não lembra, - ou quem não ouviu falar das batalhas feridas naquela clássica platéia do campo da Aclamação, entre a legião casalônica e a falange chartônica, mas sobretudo entre esta e o regimento lagruísta? Eram batalhas campais, com tropas frescas - e maduras também - apercebidas de flores, de versos, de coroas, e até de estalinhos. Uma noite a ação travou-se entre o campo lagruísta e o campo chartonista, com tal violência, que parecia uma página da Ilíada. Desta vez, a Vênus da situação saiu ferida do combate; um estalo rebentara no rosto de Charton. O furor, o delírio, a confusão foram indescritíveis; o aplauso e a pateada deram-se as mãos - e os pés. A peleja passou aos jornais. "Vergonha eterna" - dizia um - "aos cavalheiros que cuspiram na face de uma dama!" - "Se for mister" - replicava outro - "daremos os nomes dos aristarcos que no saguão do teatro juraram desfeitear Mlle. Lagrua!" - "Patuléia desenfreada!" - "Fidalguice balofa!"