Mas a alma do rei não ouviu o resto. Lépida e cintilante, deixou o seu vaso físico e penetrou no corpo de Kinnara, enquanto a desta se apoderava do despojo real. Ambos os corpos ergueram-se e olharam um para o outro, imagine-se com que assombro. Era a situação do Buoso e da cobra, segundo conta o velho Dante; mas vede aqui a minha audácia. O poeta manda calar Ovídio e Lucano, por achar que a sua metamorfose vale mais que a deles dous. Eu mando-os calar a todos três. Buoso e a cobra não se encontram mais, ao passo que os meus dous heróis, uma vez trocados, continuam a falar e a viver juntos - cousa evidentemente mais dantesca, em que me pese à modéstia.